2º TRIM. 2015 – LIÇÃO Nº 9 – A LIMITAÇÃO DOS
DISCÍPULOS
Jesus, o Homem Perfeito – O Evangelho de Lucas, o médico amado
I – INTRODUÇÃO
Nesta presente aula, trataremos das limitações apresentadas
pelos discípulos de Jesus. Eram homens privilegiados por terem o Mestre ao lado
deles de forma tão intima e imediata, contudo, não eram perfeitos. Percebemos
claramente, quando lemos as narrativas dos quatro Evangelhos de Jesus, que
mostra homens imperfeitos e limitados. A expectativa de Jesus era que
acertassem depois de serem ensinados e treinados, mas acontecia exatamente o contrário.
Sempre estavam errando, e Jesus com toda longanimidade os corrigia e nunca os
abandonava. Vemos, que Deus trabalha com homens e homens imperfeitos, limitados
e que constantemente estão dependendo dEle. Eles tinham o que DEUS queria: desejo
de aprender e servir ao mestre. Assim, Ele poderia escolhê-los, chamá-los,
prepará-los e enviá-los.
Esta lição quer nos mostrar que a limitação humana, é um
princípio que nos torna humanos, e que as limitações dos apóstolos foram
percebidas, mas Jesus os discipulou e capacitou para Sua grande Obra.
II – DEFININDO LIMITAÇÃO
A palavra-chave
do nosso estudo de hoje é “limitação”.
segundo o dicionário Aurélio, aponta para a “insuficiência,
afinitude e adependência de outrem” (FERREIRA, 2004, p. 1208).
Segundo determinado cronista, pessoas
limitadas, em geral, são pessoas que têm consciência de suas limitações. Sabem
até onde podem ir com seus próprios meios e a partir de onde é recomendável
valer-se da ajuda de outros.
Nesse contexto, também podemos
citar a imperfeição.
III – AS LIMITAÇÕES
DOS DISCÍPULOS
Ao longo de sua narrativa, Lucas
mostra simultaneamente a excelência e a perfeição de Cristo e a imperfeição dos
demais homens, em especial dos discípulos, que necessitavam aprender com Jesus
a serem perfeitos. Também mostra claramente que os que se acham
autossuficientes, os que acreditam não necessitar de qualquer ajuda, não
alcançam a salvação. O Senhor veio dissipar os pensamentos dos corações dos
soberbos (Lc.1:51) e envergonhar aqueles que se envergonhassem de Suas palavras
(Lc.9:26). Por isso, Lucas não esconde as limitações
dos discípulos de Jesus, a fim de mostrar não só a singularidade da perfeição
de Cristo, mas também comprovar a compaixão e a misericórdia do Senhor em
apontar e suprir as carências e necessidades apresentadas por eles, pois o reconhecimento
dessas fragilidades e no atendimento às orientações do Senhor é que se
conseguiria obter o caminho para a perfeição, aberto pelo próprio Cristo.
Jesus não nomeou seus discípulos com base em critérios
sobre-humanos ou divinos, pelo contrário, suas nomeações se deram
exclusivamente pela graça de Deus que lida com as limitação humana (2 Co.4:7).
Abaixo, veremos que os apóstolos eram homens simples, limitados, imperfeitos,
finitos e totalmente dependentes do seu Mestre.
·
Pedro – Um pescador cheio de
dúvidas, impulsivo, inseguro, de temperamento fortíssimo (Mt. 4:18; 14:31; 26:33,35,69-75;
Jo. 18:10).
·
André – Um pescador cuja visão do
Cristo era limitadíssima (Mt. 4:18; Jo. 6:8,9).
·
Tiago – Um pescador de temperamento
instável, explosivo e egoísta (Mt. 4:21; Mc. 10:37; Lc. 9:54).
·
João – Um pescador de natureza explosiva,
enérgica e imprevisível (Mc. 9:38; Lc. 9:49,54).
·
Filipe – Um homem descrente no
campo dos milagres (Jo. 6:5-7).
·
Bartolomeu – Um homem cuja fé era
oscilante (Mt. 10:3; Lc. 6:14; 8:22-25).
·
Mateus – Um cobrador de impostos com
uma vida fragilizada (Mt. 9:9-11; 26:56).
·
Tomé – Um homem ansioso, cético =
incrédulo (Jo. 20:2).
·
Tiago filho de Alfeu,Filho de
Maria, conhecido como o Menor – fé oscilante (Mc. 15:40; Lc. 8:22-25).
·
Simão zelote – Um homem movido pelo
“zelo” do partido político do qual era membro (Mt.
10:4; Mc. 3:18; Lc. 6:15).
·
Judas filho de Tiago – Um homem
dominado pelo medo. (Lc. 8:22-25; Mt. 26:56)
·
Judas Iscariotes – Um tesoureiro
ambicioso e infiel (Mt. 26:14-16; Mc. 14:10,11; Jo. 12:6).
IV – ABNEGAÇÃO – AS
CONSEQUÊNCIAS DA SUA FALTA: O DESEJO DE
SER MAIOR E O SECTARISMO
Em Lc.9:23-27, o Senhor mostra a necessidade que
temos de segui-lO.
Jesus dizia a todos que quem quisesse vir após Ele, deveria negar a si mesmo,
tomar cada dia a sua cruz e segui-lO. Com esta afirmação, o Senhor deixa bem
claro que há necessidade de todo ser
humano seguir os passos de Jesus. Como homem perfeito, Cristo veio dar o
exemplo de como se deve viver sobre a face da Terra e este exemplo precisa ser
seguido (I Pe.2:21). É um ato de vontade que se abre a todos os seres humanos,
mas que deve se iniciar com a negação de si mesmo, a abnegação.
O que é
negar-se a si mesmo?
“…1)
Negar-se a si mesmo é despedir-se. Dar adeus à vontade própria, às inclinações
e aos desejos pessoais, essa é a “negação de si mesmo” que nos cabe realizar.
Negar-se a si mesmo significa viver como se não nos importássemos mais conosco
e nossa vontade.
2) Tomar
sobre si a cruz refere-se ao fardo que devemos nos dispor a carregar. A cruz é
a mais infame pena de morte que jamais existiu.
E nesta
caminhada de abnegação, contamos com uma grande limitação: o “eu”, a natureza
pecaminosa que Jesus não possuía e contra a qual deveremos lutar diuturnamente
para sermos bem sucedidos na vida espiritual.
A abnegação deve ser de tal forma, que devemos
sempre nos considerar “servos inúteis”, visto que tudo o que fizermos para o Senhor não será motivo
para nossa autoglorificação. É esta a nossa real posição, pois tudo quanto
fizermos na obra do Senhor, nada mais será do que cumprimento do nosso dever e,
por isso, não teremos que nos gloriar a respeito do que tiver sido realizado,
pois nenhum senhor glorifica o seu servo por ter feito aquilo que foi mandado
fazer (Lc.17:7-10). Como bem diz John Nelson Darby: “…quando tivermos feito
tudo o que nos for ordenado, teremos feito apenas o nosso dever…” (Estudos
sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, p.110).
Lucas registra um caso específico que deve ser evitado por quem
quiser chegar aos céus. É o desejo de
ser maior, que o médico amado aponta como tendo existido entre os
discípulos em duas passagens: Lc.9:46-48
e Lc.22:24-30.
Na primeira passagem, que o evangelista situa no contexto
da transfiguração e da cura do jovem lunático, houve uma discussão entre os
discípulos sobre qual deles seria o maior. É importante observar que Lucas diz
que Jesus percebeu que havia esta discussão entre eles, não porque tivessem
vindo debater este assunto com o Mestre, mas “pelo pensamento de seus
corações”. Marcos é explícito ao afirmar que a discussão se deu na ausência de
Cristo (Mc.9:33,34).
Obs: Essas discussões que sempre existe no meio do
povo de Deus, sempre se dá na ausência de Jesus.
Esta é
uma consequência do não reconhecimento da necessidade da abnegação da qual já
falamos. Os dias em que vivemos são dias de individualismo e egoísmo (II
Tm.3:1-4) e, por causa disso, são tantas as manifestações de egocentrismo que
levam a cada vez mais disputas entre os discípulos de Cristo para saber quem é
o maior. Daí a proliferação de denominações, ministérios ... Esquecem que o
caminho de Cristo é o caminho da humilhação, do esvaziamento, do
autossacrifício.
Jesus, sabendo os pensamentos dos corações dos discípulos, tomou
um menino e o pôs junto de si, ensinando que qualquer que recebesse aquele
menino em Seu nome, recebe-lO-ia e que quem recebesse a Cristo, receberia
Àquele que O enviara, pois só é grande aquele que entre os discípulos de Jesus
for o menor.
Jesus mostra, com esta lição, que a lógica do reino de Deus é inversa à do mundo. Enquanto, no
mundo, as pessoas querem ser os maiorais, na Igreja de Cristo, grande é aquele
que for o menor de todos, que aceitar Se humilhar, assim como fez o Senhor
(Fp.2:3-8). Podemos também citar o ensino de Paulo que, precisamente por
defender o seu apostolado, põe-se como o mais inferior de todos os crentes (I
Co.4:9).
Este tema será retomado em Lc.22:24-30, quando, novamente, já
na última páscoa, Jesus torna a dizer que padeceria tudo quanto estava
determinado e que haveria de ser traído. Os discípulos, indiferentes, começam
novamente a discutir, criando uma contenda, para saber qual deles era o maior.
Jesus, então, diante desta contenda estabelecida, muito provavelmente na Sua
presença, voltou a ensinar que a lógica
existente no reino de Deus é diferente da que existia entre os gentios.
Enquanto que os gentios tinham a lógica do poder, em que os reis dominam sobre
os súditos, na Igreja, bem ao
contrário, deve vigorar a lógica do serviço, segundo a qual quem é maior
é quem deve servir aos outros. O próprio Jesus põe-se como exemplo, pois,
embora sendo o maior de todo o grupo, era Ele quem havia servido a páscoa para
todos.
Outra consequência da falta de abnegação dos
discípulos de Cristo é o sectarismo – atitude de excluir todos quantos não fazem parte de
nosso grupo, de se distanciar da sociedade onde vivemos, achando-nos superiores
aos demais.
Os
discípulos do Mestre adotaram uma atitude sectarista logo após terem discutido
entre si quem era o maior. Diz-nos Lc.9:49,50
que João se gabou diante do Senhor por ter proibido, junto com
outros discípulos, alguém que expulsava demônios em nome de Jesus mas que não
pertencia ao grupo dos discípulos, achando que, com isso, estavam zelando por
Cristo e por Seu grupo. No entanto, o Senhor os repreendeu, dizendo que não
deveriam ter proibido a pessoa de fazer isto, já que quem não é contra nós, é
por nós.
V – LONGANIMIDADE – AS
CONSEQUÊNCIAS DA SUA FALTA: A OBRIGATORIEDADE DO PERDÃO, A NECESSIDADE DO
ACRÉSCIMO DE FÉ E A CONSEQUENTE NECESSIDADE DE ORAÇÃO E JEJUM
Ao contrário
do Senhor Jesus, que se compadecia de todos os homens, a ponto de perdoá-los e
resolver morrer em seu lugar, os discípulos tinham imensa dificuldade em
perdoar e em ser longânimos para com o próximo.
O que é
ser longânimo? É ter misericórdia e amor com o próximo.
O primeiro sinal desta falta de longanimidade para com o próximo,
vemos no início da narrativa do ministério de Jesus em Jerusalém. Como sabemos,
Lucas constrói seu relato em três lugares: Nazaré, Cafarnaum e Jerusalém. Quando
Jesus resolve ir para Jerusalém (Lc.9:51), tem de passar por Samaria. Ao passar
por Samaria, Jesus não foi bem recebido pelos samaritanos, negando pousada ao
Senhor, apesar de Ele ter mandado mensageiros para que, naquela aldeia de
samaritanos, lhes fosse preparada pousada (Lc.9:52).
Esta recusa era resultado do conflito que havia entre judeus e
samaritanos, que nem sequer se comunicavam (Jo.4:9) e o Senhor Jesus
demonstrava que estava a caminho de Jerusalém (Lc.9:53). Diante desta atitude, Tiago e João,
de imediato, “cheios de poder de Deus”, disseram a Jesus se Ele não queria que
eles pedissem para que descesse fogo do céu e consumissem aqueles samaritanos,
assim como havia feito o profeta Elias (Lc.9:54). O Senhor, então, os
repreendeu e lhes disse que eles não sabiam de que espírito eram, porque o
Filho do homem não havia vindo para destruir as almas dos homens, mas para
salvá-las. Não podemos responder o mal com o mal, mas o mal com o bem
(Rm.12:21).
Vamos a outra limitação dos discípulos, a questão do
perdão, que é tratada
em Lc.17:1-10. Jesus é bem claro ao dizer que devemos repreender o irmão que
peca contra nós, devendo, porém, perdoar-lhe se ele se arrepender. Se temos que ser tolerantes e longânimos para
com os incrédulos, com relação aos irmãos, que já são conhecedores da Palavra
de Deus, temos de repreender sempre que ele pecar contra nós.
Muitos
dizem que não perdoam pessoa alguma, da mesma forma, muitos vão deixar de
entrar no céu, por não perdoar. Devemos ter a mesma natureza do pai, pois o
nosso Deus é perdoador, é grandioso em perdoar (Is.55:7). Jesus deixou bem
claro que quem não perdoa seu irmão, também não será perdoado por Ele
(Mt.6:14,15).
A dificuldade foi tanta que os próprios
discípulos, diante deste ensino de Cristo, admitiu outra limitação, a falta de
fé, tanto
que pediram ao Senhor que se lhes acrescentasse a fé (Lc.17:5).
Ante a afirmação dos discípulos, o Senhor disse que a fé de Seus
discípulos devem ser como o
grão de mostarda, pois, se assim, poderiam eles realizar maravilhas, como, por
exemplo, mandar que uma amoreira se desarraigasse e se plantasse no mar
(Lc.17:6).
- Ter a fé como um grão de mostarda é ter uma fé que se permita desenvolver.
A fé
desenvolve-se ao longo de nossa peregrinação terrena, quando nos aproximamos
mais e mais do Senhor Jesus. A fé
aumenta quando nos santificamos, de modo que os meios de santificação
são formas de crescermos na fé. Assim, além da Palavra de Deus (Rm. 10:17), são
fatores que nos fazem desenvolver na fé: a oração (I Tm.4:5), que deve ser
aliada à prática do jejum (Lc.5:35); o temor a Deus (II Co.7:1) e a
participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:27-30). (Rm. 10:17). Assim alimentaremos a
nossa fé, como um grão de mostarda (Rm. 1:17).
Obs: Precisamos
afastar uma interpretação equivocada, que diz que se a nossa fé for do tamanho
do grão de mostarda.
A falta de amor é o grande mal do
momento e a falta de perdão, conseqüência desta.
Então, surge outra
limitação dos discípulos, a necessidade que têm de se viver em oração e jejum. Jesus, mesmo, deixou o exemplo de
homem de oração, sendo esta uma constante que Lucas mostra em seu evangelho.
Os discípulos sentiram a necessidade de orar, de ter
uma vida de oração,
tanto que, após Jesus ter orado, num determinado dia, pediram-Lhe que os
ensinasse a orar (Lc.11:1), oportunidade em que o Senhor lhes ensinou o Pai
nosso, que é a oração do Senhor ou oração dominical (Lc.11:2-4).
Porque
só pediram para ensiná-los a orar? Porque perceberam que era o diferencial na
vida de Jesus. Se eles pudessem ser de oração também, seriam igual ao mestre.
A oração deve ser acompanhada do jejum, pois o jejum é uma necessidade
também para os discípulos de Jesus. O Senhor disse que, quando fosse tirado
fisicamente do meio de Seus discípulos, eles teriam necessidade de jejuar (Lc.5:33-35).
VI – VIDA ESPIRITUAL SINCERA – AS
CONSEQUENCIAS DA SUA FALTA: NECESSIDADE DE TEMOR A DEUS E NÃO AOS HOMENS, A
NECESSIDADE DE NOS DESPRENDERMOS DOS BENS MATERIAIS
Faz-se também necessário que tenhamos
uma vida espiritual sincera, uma vida verdadeira diante de Deus e dos homens.
O Senhor Jesus mandou que Seus
discípulos se acautelassem do “fermento dos fariseus”, que é a hipocrisia (Lc.12:1). Precisamos
ser verdadeiros, vivermos aquilo que pregamos, que era o grande erro dos
fariseus que, apesar de extremamente religiosos e serem até referência de
santidade na sociedade judaica do tempo de Jesus, eram hipócritas, pois
pregavam, mas não viviam aquilo que pregavam (Mt.23:2,3).
Vida esta que requer santidade, desprendimento dos bens materiais
(Lc.12:13-21/Lc.12:22,23).
CONCLUSÃO
Vimos nesta aula, que muitos eram
os problemas que permeavam os seguidores de Jesus - exclusivismo (Jesus só para
eles, nada de alguém fora do grupo ter poder), egoísmo (queriam ter lugar de
destaque no reino de Cristo), imaturidade (falta de fé e de experiência com
Deus e falta de conhecimento das escrituras), bairrismo (defesa exagerada de
seu ministério, em detrimento dos outros), etc. Porém a vida é uma escola que
não camufla a limitação ou a incapacidade humana. Eles se depararam com muitas
situações, nas quais essas limitações afloraram. Mas o Senhor com toda a sua
compaixão e misericórdia os orienta para conseguirem chegar ao caminho para a
perfeição. Portanto, a vontade geral de Deus para o
homem está descrita na Bíblia, e a particular pode ser conhecida mediante um
relacionamento íntimo com o Senhor.
VOCABULÁRIO
Primazia
– Pessoa que quer ter destaque.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Online
Bíblia de Estudo
Pentecostal
Bíblia de estudo –
Aplicação Pessoal
Dicionário online de
Português
Lições Bíblicas CPAD – 2º Trimestre – 2015
Revista Ensinador
Cristão – nº 62 – CPAD
Lucas (Introdução e Comentário).
Leon L. Morris. VIDA NOVA.
Comentário
Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Portal
EBD – Dr. Caramuru Afonso Francisco.
Consultas a sites de Estudos Bíblicos.
Hernandes Dias Lopes. MARCOS – O Evangelho dos Milagres.
Pequena Enciclopédia Bíblica –
Orlando Boyer
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