domingo, 31 de maio de 2015

A LIMITAÇÃO DOS DISCÍPULOS


2º TRIM. 2015 – LIÇÃO Nº 9 – A LIMITAÇÃO DOS DISCÍPULOS
 Jesus, o Homem Perfeito – O Evangelho de Lucas, o médico amado

I – INTRODUÇÃO
Nesta presente aula, trataremos das limitações apresentadas pelos discípulos de Jesus. Eram homens privilegiados por terem o Mestre ao lado deles de forma tão intima e imediata, contudo, não eram perfeitos. Percebemos claramente, quando lemos as narrativas dos quatro Evangelhos de Jesus, que mostra homens imperfeitos e limitados. A expectativa de Jesus era que acertassem depois de serem ensinados e treinados, mas acontecia exatamente o contrário. Sempre estavam errando, e Jesus com toda longanimidade os corrigia e nunca os abandonava. Vemos, que Deus trabalha com homens e homens imperfeitos, limitados e que constantemente estão dependendo dEle. Eles tinham o que DEUS queria: desejo de aprender e servir ao mestre. Assim, Ele poderia escolhê-los, chamá-los, prepará-los e enviá-los.
Esta lição quer nos mostrar que a limitação humana, é um princípio que nos torna humanos, e que as limitações dos apóstolos foram percebidas, mas Jesus os discipulou e capacitou para Sua grande Obra.

II – DEFININDO LIMITAÇÃO
A palavra-chave do nosso estudo de hoje é “limitação”.
segundo o dicionário Aurélio, aponta para a “insuficiência, afinitude e adependência de outrem” (FERREIRA, 2004, p. 1208).
Segundo determinado cronista, pessoas limitadas, em geral, são pessoas que têm consciência de suas limitações. Sabem até onde podem ir com seus próprios meios e a partir de onde é recomendável valer-se da ajuda de outros.
Nesse contexto, também podemos citar a imperfeição.

III – AS LIMITAÇÕES DOS DISCÍPULOS
Ao longo de sua narrativa, Lucas mostra simultaneamente a excelência e a perfeição de Cristo e a imperfeição dos demais homens, em especial dos discípulos, que necessitavam aprender com Jesus a serem perfeitos. Também mostra claramente que os que se acham autossuficientes, os que acreditam não necessitar de qualquer ajuda, não alcançam a salvação. O Senhor veio dissipar os pensamentos dos corações dos soberbos (Lc.1:51) e envergonhar aqueles que se envergonhassem de Suas palavras (Lc.9:26). Por isso,  Lucas não esconde as limitações dos discípulos de Jesus, a fim de mostrar não só a singularidade da perfeição de Cristo, mas também comprovar a compaixão e a misericórdia do Senhor em apontar e suprir as carências e necessidades apresentadas por eles, pois o reconhecimento dessas fragilidades e no atendimento às orientações do Senhor é que se conseguiria obter o caminho para a perfeição, aberto pelo próprio Cristo.
Jesus não nomeou seus discípulos com base em critérios sobre-humanos ou divinos, pelo contrário, suas nomeações se deram exclusivamente pela graça de Deus que lida com as limitação humana (2 Co.4:7). Abaixo, veremos que os apóstolos eram homens simples, limitados, imperfeitos, finitos e totalmente dependentes do seu Mestre.

·         Pedro – Um pescador cheio de dúvidas, impulsivo, inseguro, de temperamento fortíssimo (Mt. 4:18; 14:31; 26:33,35,69-75; Jo. 18:10).
·         André – Um pescador cuja visão do Cristo era limitadíssima (Mt. 4:18; Jo. 6:8,9).
·         Tiago – Um pescador de temperamento instável, explosivo e egoísta (Mt. 4:21; Mc. 10:37; Lc. 9:54).
·         João – Um pescador de natureza explosiva, enérgica e imprevisível (Mc. 9:38; Lc. 9:49,54).
·         Filipe – Um homem descrente no campo dos milagres (Jo. 6:5-7).
·         Bartolomeu – Um homem cuja fé era oscilante (Mt. 10:3; Lc. 6:14; 8:22-25).
·         Mateus – Um cobrador de impostos com uma vida fragilizada (Mt. 9:9-11; 26:56).
·         Tomé – Um homem ansioso, cético = incrédulo (Jo. 20:2).
·         Tiago filho de Alfeu,Filho de Maria, conhecido como o Menor – fé oscilante (Mc. 15:40; Lc. 8:22-25).
·         Simão zelote – Um homem movido pelo “zelo” do partido político do qual era membro (Mt. 10:4; Mc. 3:18; Lc. 6:15).
·         Judas filho de Tiago – Um homem dominado pelo medo. (Lc. 8:22-25; Mt. 26:56)
·         Judas Iscariotes – Um tesoureiro ambicioso e infiel (Mt. 26:14-16; Mc. 14:10,11; Jo. 12:6).

IV – ABNEGAÇÃO – AS CONSEQUÊNCIAS  DA SUA FALTA: O DESEJO DE SER MAIOR E O SECTARISMO
Em Lc.9:23-27, o Senhor mostra a necessidade que temos de segui-lO. Jesus dizia a todos que quem quisesse vir após Ele, deveria negar a si mesmo, tomar cada dia a sua cruz e segui-lO. Com esta afirmação, o Senhor deixa bem claro que há necessidade de todo ser humano seguir os passos de Jesus. Como homem perfeito, Cristo veio dar o exemplo de como se deve viver sobre a face da Terra e este exemplo precisa ser seguido (I Pe.2:21). É um ato de vontade que se abre a todos os seres humanos, mas que deve se iniciar com a negação de si mesmo, a abnegação.
O que é negar-se a si mesmo?
“…1) Negar-se a si mesmo é despedir-se. Dar adeus à vontade própria, às inclinações e aos desejos pessoais, essa é a “negação de si mesmo” que nos cabe realizar. Negar-se a si mesmo significa viver como se não nos importássemos mais conosco e nossa vontade.
2) Tomar sobre si a cruz refere-se ao fardo que devemos nos dispor a carregar. A cruz é a mais infame pena de morte que jamais existiu.
E nesta caminhada de abnegação, contamos com uma grande limitação: o “eu”, a natureza pecaminosa que Jesus não possuía e contra a qual deveremos lutar diuturnamente para sermos bem sucedidos na vida espiritual.
A abnegação deve ser de tal forma, que devemos sempre nos considerar “servos inúteis”, visto que tudo o que fizermos para o Senhor não será motivo para nossa autoglorificação. É esta a nossa real posição, pois tudo quanto fizermos na obra do Senhor, nada mais será do que cumprimento do nosso dever e, por isso, não teremos que nos gloriar a respeito do que tiver sido realizado, pois nenhum senhor glorifica o seu servo por ter feito aquilo que foi mandado fazer (Lc.17:7-10). Como bem diz John Nelson Darby: “…quando tivermos feito tudo o que nos for ordenado, teremos feito apenas o nosso dever…” (Estudos sobre a Palavra de Deus: Lucas-João. Trad. de Dr. Martins do Vale, p.110).
Lucas registra um caso específico que deve ser evitado por quem quiser chegar aos céus. É o desejo de ser maior, que o médico amado aponta como tendo existido entre os discípulos em duas passagens: Lc.9:46-48 e Lc.22:24-30.
Na primeira passagem, que o evangelista situa no contexto da transfiguração e da cura do jovem lunático, houve uma discussão entre os discípulos sobre qual deles seria o maior. É importante observar que Lucas diz que Jesus percebeu que havia esta discussão entre eles, não porque tivessem vindo debater este assunto com o Mestre, mas “pelo pensamento de seus corações”. Marcos é explícito ao afirmar que a discussão se deu na ausência de Cristo (Mc.9:33,34).
Obs:  Essas discussões que sempre existe no meio do povo de Deus, sempre se dá na ausência de Jesus.
Esta é uma consequência do não reconhecimento da necessidade da abnegação da qual já falamos. Os dias em que vivemos são dias de individualismo e egoísmo (II Tm.3:1-4) e, por causa disso, são tantas as manifestações de egocentrismo que levam a cada vez mais disputas entre os discípulos de Cristo para saber quem é o maior. Daí a proliferação de denominações, ministérios ... Esquecem que o caminho de Cristo é o caminho da humilhação, do esvaziamento, do autossacrifício.
Jesus, sabendo os pensamentos dos corações dos discípulos, tomou um menino e o pôs junto de si, ensinando que qualquer que recebesse aquele menino em Seu nome, recebe-lO-ia e que quem recebesse a Cristo, receberia Àquele que O enviara, pois só é grande aquele que entre os discípulos de Jesus for o menor.
Jesus mostra, com esta lição, que a lógica do reino de Deus é inversa à do mundo. Enquanto, no mundo, as pessoas querem ser os maiorais, na Igreja de Cristo, grande é aquele que for o menor de todos, que aceitar Se humilhar, assim como fez o Senhor (Fp.2:3-8). Podemos também citar o ensino de Paulo que, precisamente por defender o seu apostolado, põe-se como o mais inferior de todos os crentes (I Co.4:9).
Este tema será retomado em Lc.22:24-30, quando, novamente, já na última páscoa, Jesus torna a dizer que padeceria tudo quanto estava determinado e que haveria de ser traído. Os discípulos, indiferentes, começam novamente a discutir, criando uma contenda, para saber qual deles era o maior. Jesus, então, diante desta contenda estabelecida, muito provavelmente na Sua presença, voltou a ensinar que a lógica existente no reino de Deus é diferente da que existia entre os gentios. Enquanto que os gentios tinham a lógica do poder, em que os reis dominam sobre os súditos, na Igreja, bem ao contrário, deve vigorar a lógica do serviço, segundo a qual quem é maior é quem deve servir aos outros. O próprio Jesus põe-se como exemplo, pois, embora sendo o maior de todo o grupo, era Ele quem havia servido a páscoa para todos.
Outra consequência da falta de abnegação dos discípulos de Cristo é o sectarismo – atitude de excluir todos quantos não fazem parte de nosso grupo, de se distanciar da sociedade onde vivemos, achando-nos superiores aos demais.
Os discípulos do Mestre adotaram uma atitude sectarista logo após terem discutido entre si quem era o maior. Diz-nos Lc.9:49,50 que João se gabou diante do Senhor por ter proibido, junto com outros discípulos, alguém que expulsava demônios em nome de Jesus mas que não pertencia ao grupo dos discípulos, achando que, com isso, estavam zelando por Cristo e por Seu grupo. No entanto, o Senhor os repreendeu, dizendo que não deveriam ter proibido a pessoa de fazer isto, já que quem não é contra nós, é por nós.

V – LONGANIMIDADE – AS CONSEQUÊNCIAS DA SUA FALTA: A OBRIGATORIEDADE DO PERDÃO, A NECESSIDADE DO ACRÉSCIMO DE FÉ E A CONSEQUENTE NECESSIDADE DE ORAÇÃO E JEJUM
Ao contrário do Senhor Jesus, que se compadecia de todos os homens, a ponto de perdoá-los e resolver morrer em seu lugar, os discípulos tinham imensa dificuldade em perdoar e em ser longânimos para com o próximo.
O que é ser longânimo? É ter misericórdia e amor com o próximo.
O primeiro sinal desta falta de longanimidade para com o próximo, vemos no início da narrativa do ministério de Jesus em Jerusalém. Como sabemos, Lucas constrói seu relato em três lugares: Nazaré, Cafarnaum e Jerusalém. Quando Jesus resolve ir para Jerusalém (Lc.9:51), tem de passar por Samaria. Ao passar por Samaria, Jesus não foi bem recebido pelos samaritanos, negando pousada ao Senhor, apesar de Ele ter mandado mensageiros para que, naquela aldeia de samaritanos, lhes fosse preparada pousada (Lc.9:52).
Esta recusa era resultado do conflito que havia entre judeus e samaritanos, que nem sequer se comunicavam (Jo.4:9) e o Senhor Jesus demonstrava que estava a caminho de Jerusalém (Lc.9:53). Diante desta atitude, Tiago e João, de imediato, “cheios de poder de Deus”, disseram a Jesus se Ele não queria que eles pedissem para que descesse fogo do céu e consumissem aqueles samaritanos, assim como havia feito o profeta Elias (Lc.9:54). O Senhor, então, os repreendeu e lhes disse que eles não sabiam de que espírito eram, porque o Filho do homem não havia vindo para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. Não podemos responder o mal com o mal, mas o mal com o bem (Rm.12:21).
Vamos a outra limitação dos discípulos, a questão do perdão, que é tratada em Lc.17:1-10. Jesus é bem claro ao dizer que devemos repreender o irmão que peca contra nós, devendo, porém, perdoar-lhe se ele se arrepender. Se temos que ser tolerantes e longânimos para com os incrédulos, com relação aos irmãos, que já são conhecedores da Palavra de Deus, temos de repreender sempre que ele pecar contra nós.
Muitos dizem que não perdoam pessoa alguma, da mesma forma, muitos vão deixar de entrar no céu, por não perdoar. Devemos ter a mesma natureza do pai, pois o nosso Deus é perdoador, é grandioso em perdoar (Is.55:7). Jesus deixou bem claro que quem não perdoa seu irmão, também não será perdoado por Ele (Mt.6:14,15).
A dificuldade foi tanta que os próprios discípulos, diante deste ensino de Cristo, admitiu outra limitação, a falta de fé, tanto que pediram ao Senhor que se lhes acrescentasse a fé (Lc.17:5).
Ante a afirmação dos discípulos, o Senhor disse que a fé de Seus discípulos devem ser como o grão de mostarda, pois, se assim, poderiam eles realizar maravilhas, como, por exemplo, mandar que uma amoreira se desarraigasse e se plantasse no mar (Lc.17:6).
  • Ter a fé como um grão de mostarda é ter uma fé que se permita desenvolver.
A fé desenvolve-se ao longo de nossa peregrinação terrena, quando nos aproximamos mais e mais do Senhor Jesus. A fé aumenta quando nos santificamos, de modo que os meios de santificação são formas de crescermos na fé. Assim, além da Palavra de Deus (Rm. 10:17), são fatores que nos fazem desenvolver na fé: a oração (I Tm.4:5), que deve ser aliada à prática do jejum (Lc.5:35); o temor a Deus (II Co.7:1) e a participação digna na ceia do Senhor (I Co.11:27-30).  (Rm. 10:17). Assim alimentaremos a nossa fé, como um grão de mostarda (Rm. 1:17).
Obs: Precisamos afastar uma interpretação equivocada, que diz que se a nossa fé for do tamanho do grão de mostarda.
        A falta de amor é o grande mal do momento e a falta de perdão, conseqüência desta.
Então, surge outra limitação dos discípulos, a necessidade que têm de se viver em oração e  jejum. Jesus, mesmo, deixou o exemplo de homem de oração, sendo esta uma constante que Lucas mostra em seu evangelho.
Os discípulos sentiram a necessidade de orar, de ter uma vida de oração, tanto que, após Jesus ter orado, num determinado dia, pediram-Lhe que os ensinasse a orar (Lc.11:1), oportunidade em que o Senhor lhes ensinou o Pai nosso, que é a oração do Senhor ou oração dominical (Lc.11:2-4).
Porque só pediram para ensiná-los a orar? Porque perceberam que era o diferencial na vida de Jesus. Se eles pudessem ser de oração também, seriam igual ao mestre.
A oração deve ser acompanhada do jejum, pois o jejum é uma necessidade também para os discípulos de Jesus. O Senhor disse que, quando fosse tirado fisicamente do meio de Seus discípulos, eles teriam necessidade de jejuar (Lc.5:33-35).

VI – VIDA ESPIRITUAL SINCERA – AS CONSEQUENCIAS DA SUA FALTA: NECESSIDADE DE TEMOR A DEUS E NÃO AOS HOMENS, A NECESSIDADE DE NOS DESPRENDERMOS DOS BENS MATERIAIS
Faz-se também necessário que tenhamos uma vida espiritual sincera, uma vida verdadeira diante de Deus e dos homens.
O Senhor Jesus mandou que Seus discípulos se acautelassem do “fermento dos fariseus”, que é a hipocrisia (Lc.12:1). Precisamos ser verdadeiros, vivermos aquilo que pregamos, que era o grande erro dos fariseus que, apesar de extremamente religiosos e serem até referência de santidade na sociedade judaica do tempo de Jesus, eram hipócritas, pois pregavam, mas não viviam aquilo que pregavam (Mt.23:2,3).
Vida esta que requer santidade, desprendimento dos bens materiais (Lc.12:13-21/Lc.12:22,23).
CONCLUSÃO
Vimos nesta aula, que muitos eram os problemas que permeavam os seguidores de Jesus - exclusivismo (Jesus só para eles, nada de alguém fora do grupo ter poder), egoísmo (queriam ter lugar de destaque no reino de Cristo), imaturidade (falta de fé e de experiência com Deus e falta de conhecimento das escrituras), bairrismo (defesa exagerada de seu ministério, em detrimento dos outros), etc. Porém a vida é uma escola que não camufla a limitação ou a incapacidade humana. Eles se depararam com muitas situações, nas quais essas limitações afloraram. Mas o Senhor com toda a sua compaixão e misericórdia os orienta para conseguirem chegar ao caminho para a perfeição. Portanto, a vontade geral de Deus para o homem está descrita na Bíblia, e a particular pode ser conhecida mediante um relacionamento íntimo com o Senhor.
VOCABULÁRIO
Primazia – Pessoa que quer ter destaque.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Online
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal
Dicionário online de Português
Lições Bíblicas CPAD – 2º Trimestre – 2015
Revista Ensinador Cristão – nº 62 – CPAD
Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Portal EBD – Dr. Caramuru Afonso Francisco.
Consultas a sites de Estudos Bíblicos.
Hernandes Dias Lopes. MARCOS – O Evangelho dos Milagres.
Pequena Enciclopédia Bíblica – Orlando Boyer

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