domingo, 26 de abril de 2015

A TENTAÇÃO DE JESUS




 2º TRIM. 2015 – LIÇÃO Nº 4 – A TENTAÇÃO DE JESUS
 Jesus, o Homem Perfeito – O Evangelho de Lucas, o médico amado


I - INTRODUÇÃO
A tentação é uma realidade presente na vida de cada ser humano, portanto, não há ninguém que não esteja sujeito à tentação. Até mesmo Jesus, o Homem Perfeito, também foi tentado, contudo, não cedeu a tentação.
Estaremos abordando na aula de hoje, o relato de Lucas sobre a tentação de Jesus, a sutileza do Diabo em tentar o Filho do Homem em um momento de extrema carência e necessidade física, e como o Filho do Homem o derrotou ao dizer “não” a cada uma de suas propostas. Portanto, para resistir as tentações, temos a promessa de que o Senhor, que a todas venceu, estará sempre ao nosso lado, socorrendo-nos em momento oportuno.

II – O BATISMO E A GENEALOGIA DE JESUS
Para que possamos ter uma visão mais abrangente, iniciaremos este estudo focando o relato de Lucas sobre o batismo de Jesus, sendo ele bem claro que o ministério de João Batista começa porque a Palavra de Deus veio sobre João no deserto, começando este a percorrer toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo do arrependimento, para o perdão dos pecados, o que era o cumprimento do que havia sido profetizado pelo profeta Isaías (Lc.3:3-6).
Após ter anunciado que João foi preso por Herodes, tetrarca da Galileia (Lc. 3:19,20), Lucas se volta ao relato do início do ministério de Jesus e o faz a partir do episódio que dá início a este ministério, que é o Seu batismo por João.
Lucas é bem sucinto e mostra que Jesus havia Se humanizado e Se encontrava no meio do povo e, como era um homem submisso à vontade de Deus, responde favoravelmente à pregação de um homem de Deus e aceita ser batizado (Lc. 3:21). Lucas registra, ainda, que, enquanto era batizado, Jesus estava a orar, demonstrando ser um homem que tinha plena comunhão com Deus, que vivia em oração. Tanto que, enquanto era batizado e orava, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea, como uma pomba (Porque a pomba é mansa e pura – mostrando  que Ele foi ungido com o Espírito Santo para o serviço), sendo, então, ouvida uma voz do céu que dizia que Aquele que era batizado era o Filho amado em quem o Pai Se comprazia (Lc.3:21,22), tendo reafirmada a Sua divindade pelo próprio Pai.
A seguir, Lucas vai falar a respeito da genealogia de Jesus, mostrando que se tratava, mesmo, de um ser humano, de Deus que havia Se feito homem para redimir a humanidade.
Lucas segue uma linha ascendente na genealogia, partindo de José, o pai social de Jesus, e indo até Adão, o primeiro homem, com a preocupação de confirmar a mensagem que o próprio Deus havia dado ao primeiro casal no Éden de que “da semente da mulher” viria Aquele que reataria a amizade entre Deus e o homem.
Dentro de seu propósito de mostrar toda a humanidade de Cristo, Lucas nos dá a idade de Jesus quando do Seu batismo, ou seja, quase trinta anos (Lc. 3:23).

III – A TENTAÇÃO DE JESUS
Depois de relatar o início do ministério de Jesus por meio do batismo e Sua unção pelo Espírito Santo, e reafirmar a Sua humanidade, Lucas passa a relatar a tentação de Jesus.
O primeiro ponto a enfatizar é que Lucas diz que Jesus estava cheio do Espírito Santo e, ao voltar do Jordão, foi levado pelo Espírito ao deserto (Lc.4:1).
Ao longo de todo o Seu ministério, Jesus foi conduzido pelo Espírito. Ele Se comprometeu sem reservas com o cumprimento da vontade do Pai. O Espírito Santo esteve envolvido na encarnação de Jesus e Sua vinda à Terra. (Jesus foi concebido por Maria pelo poder do Espírito. Antes de entrar em Seu ministério público, Jesus foi dotado do Espírito, que, no batismo, desceu sobre Ele em forma de pomba). Lucas faz questão de frisar que esta plenitude do Espírito Santo se deu quando de Seu batismo, pois diz que Jesus voltou do Jordão cheio do Espírito Santo. Após ser cheio do Espírito, Ele passa a ser conduzido, ou seja, passa a seguir a direção e orientação deste mesmo Espírito. Cristo quer que ocorra o mesmo com todos os Seus discípulos. Jesus mesmo disse que mandaria o Espírito Santo para que Este guiasse os cristãos (Jo.16:13).
Obs: * Ser um verdadeiro e genuíno cristão é ser alguém guiado e dirigido pelo Espírito Santo, pois os que são guiados pelo Espírito são filhos de Deus (Rm.8:14).
         * Lucas também nos mostra que o segredo da vitória sobre o mal está em ser guiado pelo Espírito Santo.

Logo depois do batismo, o Espírito levou Jesus ao deserto, a fim de prepará-lo para Seu ministério, provavelmente o da Judéia.
3.1 - Tentação e provação
Não podemos confundir a noção de tentação com a de provação.

a) Tentação (conceito)

·   Segundo o Dicionário Teológico – É o estimulo que pode levar a prática do pecado. Ela em si não constitui pecado, porém atender as suas reivindicações caracteriza a transgressão da Lei de Deus (Claudionor Correia de Andrade).

·   Segundo a Enciclopédia de Filosofia e Teologia de R. N. Champlin – Existe uma palavra hebraica e duas gregas envolvidas neste verbete:
Hebraica – “Massah” que significa: teste, provação.
Gregas – “Peiramós” que significa: prova, teste e aparece vinte vezes na Bíblia Sagrada.
                “Peirázo” que significa: testar, submeter à prova. Aparece trinta vezes na Bíblia Sagrada.
Resumindo: Tentação no grego significa “Peirasmos” ou seja, a tentação para prática do mal.
·   Português – Tem a mesma origem da palavra tentativa, ou seja, vem do verbo tentar, que envolve a idéia de se sugerir algo, de se projetar e planejar alguma coisa que não se realizou ainda.
                       É o emprego de meios para se conseguir algo.
·   No Dicionário Aurélio – Disposição de ânimo para a prática de coisas diferentes ou censuráveis. Desejo veemente.
Portanto, a tentação é apenas uma disposição de ânimo, não uma alteração da realidade. Por isso, o tentado não é ainda um pecador, como nos mostra claramente o texto de Hb. 4:15.
A tentação ainda não é pecado, pois Cristo foi tentado, tal como nós somos, mas permaneceu impecável. A tentação só se torna pecado, quando e conforme a sugestão ao mal é aceita e cedemos a mesma.
A tentação é uma sugestão, um projeto, uma proposta para a prática de algum pecado, para uma atitude de desobediência aos preceitos estabelecidos pelo Senhor.

b) Provação (conceito)
O grego da palavra tentação e provação vem da mesma palavra “peirasmós”. A palavra é a mesma para significar tentação e provação. Da tradução bíblica para o português é que se faz diferença. No português a palavra tentação significa: ato ou efeito de tentar, colocar a prova; e provação significa: ato ou efeito de provar, experimentar (testar); Portanto a diferença entre tentação e provação vem pelo contexto do trecho onde está sendo empregada a palavra, temos tentação para descrever as dificuldades que surgem onde a finalidade é nos afastar do caminho do Senhor, e provação geralmente usada quando se refere a uma prova enviada por Deus para fortificar a fé, promover a contínua edificação espiritual do homem que tanto ama. Deus a  estabelece dentro dos seus desígnios que o homem não consegue discernir (Is. 55:8), mas ambas são testes, a diferença é a origem, satânica ou divina.
Enfim, a tentação nunca tem objetivos de edificação, mas simplesmente, destrutivos, motivo pelo qual é distinta da provação.

3.2 – Agente da tentação
Observe (Tg 1:13): “Ninguém, sendo tentado, diga: de Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”.
Quando uma tradução diz que Deus tentou alguém (Mt. 6:13), na verdade trata-se de uma prova, e não uma tentação no sentido de induzir o homem ao pecado. Diz a Bíblia Sagrada: “Cada um, porém, é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência; então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1:14,15).
Deus não pode tentar pessoa alguma, nem pode ser tentado por pessoa alguma, porquanto ninguém pode fazer Deus pecar, nem tampouco Deus, diante do Seu caráter moral (santo, imutável, eterno...) pode fazer com que alguém peque.
Tudo o que o Senhor estabelece na vida do homem fiel é para o seu bem (Rm.8:28), por isso a passagem narrada em Gn. 22:1, a expressão “tentou” na versão Almeida Revista e Corrigida, foi substituída por pôs a prova na versão Almeida Revista e  Atualizada.
Não podendo a tentação ter origem em Deus, como se vê, percebemos que sua origem se encontra:
a) No próprio homem, ou seja, nós mesmos, o nosso eu (Tg. 1:14).
1º) Denominamos de carne.
Carne é a tradução de sarx e significa natureza adâmica caída, o desejo de viver independente de Deus. Esta acompanhará o crente até o momento da glorificação, pois a carne não pode herdar o reino dos céus (I Co. 15:50).
Essa natureza é diferente do nosso corpo.
_ Corpo é o templo do Espírito Santo (I Co. 6:19);
_ Corpo em grego é chamado de soma e é algo distinto de natureza (estado natural do homem, condição própria, essência dos seres);
_ Não há mal no corpo, formado de carne e osso.

2º) O homem é um ser moral e tem consciência das coisas certas e erradas.
_ Tem livre-arbítrio (poder de escolher entre servir e obedecer a Deus, ou não;
_ O desejo que nos impele ao pecado é proveniente de nós mesmos e é fatal ceder a este impulso.

b) O inimigo de nossas almas e suas hostes espirituais (Mt. 4:1).
_ O seu trabalho é: Jo. 10:10 (a); I Pe. 5:8.

c) O mundo ( sistema satânico que depois do pecado passou a viver sobre o domínio do mal) – I Jo. 5:19.
_ O mundo é um atrativo, se não vigiarmos, acabaremos por amar o que há nele e então, estaremos pecando, pois quem amar o mundo, não terá o amor de Deus nele (I Jo. 2:15).

d) Ou ainda a combinação de ambas as forças (inimigo/homem).

3.3 – A realidade da tentação
Deus não permite a Satanás tentar alguém acima de suas próprias forças e Ele sempre nos dá o escape – “Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana: mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação, dará também o meio de saída, para que possais suportar” (I Co. 10:13).
Não existe uma tentação acima de nossa capacidade de vencer. O que Paulo nos ensina nesse texto é que o caráter de Deus proíbe que a tentação ultrapasse o limite estabelecido por Ele. O tentador está debaixo do controle de Deus que conhece a nossa estrutura: “Deus conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Sl. 103:14).
É-nos garantido pelo Senhor, que todas elas são suportáveis; nenhuma tentação é superior às nossas forças (1Co 10:13). Portanto, não é algo impossível de ser vencido, sendo uma esperança para nós: que podemos vencer a tentação!
Quando o diabo consegue nos convencer por meio da tentação, nossas forças espirituais são minadas levando-nos na lona.
Quando fala que as tentações (induções) são humanas, significa que pertencem aos homens, são comuns ao seu nível, comuns a sua experiência terrena, pelo que também não podem ser algo extraordinário e avassalador para nós.

3.4 – Processo da tentação
1º) Abertura de diálogo (Gn. 3: 1-5);
2º) A dúvida em relação à Palavra (Gn. 3: 4);
3º) Através da dúvida, a tentação acaba oferecendo uma atração (Gn. 3: 5);
4º) Geração do desejo (Gn. 3:6);
5º) O engano (Gn. 3:6);
6º) Geração do pecado (Gn. 3: 7);
7º) A morte (Gn. 3:23).

3.5Vencendo a tentação
O evangelista diz que Jesus foi tentado pelo diabo por quarenta dias (Lc. 4:2) e não apenas nas três oportunidades em que o diabo falou diretamente com Ele, e esses quarenta dias, Ele passou em jejum e oração, a demonstrar a extrema necessidade do jejum em nosso combate espiritual enquanto estivermos neste mundo, que é um verdadeiro “deserto”.
Provavelmente, após estes quarenta dias, Jesus tenha ficado mortalmente debilitado, e foi esse momento que o tentador aproveitou para a última e decisiva investida.
"Segundo a leitura médica, trinta a quarenta dias de completo jejum exaure as energias do corpo, causa fome intensa e aproxima o indivíduo da exaustão. Mesmo neste estado de fraqueza, JESUS permaneceu fiel ao compromisso. Confiou e agiu de acordo com a Palavra de DEUS." Leia mais em Guia do Leitor da Bíblia, CPAD, p. 655.

Lucas relatou as tentações da seguinte forma: em primeiro lugar, encontramos o que as necessidades do corpo exigem; depois vêm as exigências do mundo e, finalmente, a sutileza espiritual. Começa, então, o embate do diabo com Jesus no ponto mesmo da fraqueza apresentada por Nosso Senhor, qual seja, a fome que sentiu após quarenta dias de jejum. Vemos, pois, que ele sempre nos ataca no “ponto fraco”.
1) Primeiro embate – O diabo se aproxima do Senhor e lhe diz: “Se Tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão” (Lc.4:3). Se aceitasse a sugestão satânica e transformasse pedra em pão para poder se alimentar, Jesus não poderia vencer o mal e o pecado enquanto homem, o que O impediria de morrer em nosso lugar e nos ganhar a salvação.
Jesus, porém, não cede aos apetites carnais, mas, antes, responde ao tentador com a Palavra de Deus, dizendo: “Escrito está que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra de Deus” (Lc.4:4).
Jesus, na tentação, recorre à Palavra de Deus, mostrando-nos que esta é a única arma de ataque que podemos ter quando estivermos em embate com o inimigo de nossas almas. É com a espada do Espírito (Ef.6:17) que conseguimos atacar as hostes espirituais da maldade, resistindo no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes (Ef.6:13). Muitos têm trocado a Palavra de Deus pelo “crucifixo” ou qualquer outro amuleto para enfrentar o maligno, mas é a Palavra de Deus a arma com que vencemos o mal, como nos ensina o Senhor Jesus.
Vencido no primeiro embate, o diabo não se deu por vencido.
2) Segundo embate – Satanás levou Jesus a um alto monte, mostrando-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo, dizendo que lhe daria todo aquele poder e glória, porque a ele havia sido entregue e daria a quem quisesse, desde que Jesus o adorasse (Lc.4:5-7). O diabo pôde mostrar todos os reinos do mundo e o seu poder e glória, mas não podia dá-los a quem quisesse pelo simples fato de que isto não lhe havia sido entregue, portanto, mentiu a Jesus. Lembremos sempre disto para que não sejamos também levados a aceitar ofertas similares de Satanás e que têm derrubado muitos em nossos dias. Jesus responde, uma vez mais, com a Palavra de Deus, dizendo que estava escrito que só ao Senhor se pode adorar e somente a Ele servir (Lc.4:8).
Diante de mais esta resistência de Jesus a suas sugestões,
3) Terceiro embate - o diabo, então, leva Jesus para Jerusalém e o põe sobre o pináculo do templo, um local em que poderia agir psicologicamente sobre o Senhor, fazendo com que Ele Se sentisse superior. Como havia notado que Jesus desembainhara duas vezes uma palavra da Escritura como espada do Espírito. Então o diabo tenta também utilizar a mesma arma, lançando mão das Escrituras e, citando o Sl 91.11. “Está escrito: Aos seus anjos ordenará por tua causa que te guardem, e eles te carregarão nas mãos, para não tropeçares nalguma pedra”. Jesus, então, mais uma vez, recorre à Palavra de Deus e mostra ao diabo que não se deveria tentar a Deus, em mais uma citação das Escrituras, desta feita com Dt. 6:16.
Ante esta terceira vitória, o diabo se ausenta de Jesus por algum tempo (Lc.4:13) e, com esta expressão, Lucas quer mostrar que, apesar da vitória alcançada por Jesus, não se tratava de uma vitória definitiva, pois, como homem, Jesus haveria de ser tentado a todo tempo até o final de Sua existência terrena. Por isso, o escritor aos hebreus irá dizer que Jesus em tudo foi tentado, mas sem pecado (Hb.4:15).Então Jesus foi servido pelos anjos, como registra Mateus (Mt.4:11).
CONCLUSÃO
Temos muito a aprender com a tentação de Nosso Senhor. Ele foi tentado em todos os pontos, como nós, mas sem pecar. Se atentarmos para tal, não seremos ignorantes aos ardis de Satanás e aprenderemos que armas usar contra este grande adversário (jejum, Palavra, cheios do Espírito Santo) e então, seremos mais do que vencedores!

VOCABULÁRIO
Genealogia – linhagem, origem; ciência que tem por objeto a pesquisa da origem e da filiação das famílias.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bíblia Online
Bíblia de Estudo Pentecostal
Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal
Dicionário online de Português
Lições Bíblicas CPAD – 2º Trimestre – 2015
Revista Ensinador Cristão – nº 62 – CPAD
Lucas (Introdução e Comentário). Leon L. Morris. VIDA NOVA.
Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
Portal EBD – Dr. Caramuru Afonso Francisco.
Blog do Prof Luciano de Paula Lourenço
Consultas a sites de Estudos Bíblicos
Guia do Leitor da Bíblia Lawrence O. Richards, CPAD.